"Versos! Versos! Sei lá o que são versos... Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz. cantos dispersos, Ou pétalas que caem uma a uma."
Florbela Espanca
Orfeu Rebelde
Orfeu rebelde , canto como sou:
Gravasse a fúria de cada momento ;
A eternidade no meu sofrimento.
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas ,
No corpo dum poeta que a recusa,
Os versos em legitima defesa .
Se o canto
É de terror ou de beleza .
Miguel Torga, in "Orfeu Rebelde"
Sophia de Mello Breyner Andresen
Porque
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andersen, in "Mar Novo"
Eugénio de Andrade
Urgentemente
É urgente o amor
É urgente um barco no mar
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"
Urgentemente
É urgente o amor
É urgente um barco no mar
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"